Desabafo

Não vivi durante anos, aquilo que eu era pode-se caracterizar como um simples estado de dormência, sem qualquer ajuda de drogas, aquilo era eu. O vazio que existia em mim pela falta de sentimentos preenchia-se de dor. Á noite chorava abraçada ao meu melhor amigo, e talvez o único, de dia, vivia no vazio, desde muito pequena que passava dias sem falar com ninguém, a única pessoa com quem falava era o meu primo, que é como quem diz, um irmão para mim (mas esse também desapareceu), nunca nada comentei com ninguém, não sentia necessidade de o fazer, era algo normal para mim, vivia tudo como via qualquer criança fazer, mas tudo o que sentia era apenas uma ideia dos sentimentos (sabem aquilo de Hume, das impressões e das ideias, pronto era isso, só vivia uma cópia desvanecida dos sentimentos).
Depois, á muito pouco tempo, acordei, e tudo é tão belo, fico imensamente feliz com pequenas coisas que ninguém nota, mas, mesmo assim, a dor apodera-se de mim e sinto cada dia mais tentada a encharcar-me de calmantes para voltar ao estado de dormência em que vivi, mas tenho medo.
Estou cansada da vida, das cores, dos sons, dos cheiros, cada dia se mostra mais torturante, tudo á minha volta me doí e eu nada posso fazer.
Mas isto só acontece ás vezes, á dias em que acordo e quero fazer tudo, outros em que só me apetece dormir (e eu sempre odiei dormir) e esperar que tudo passe...estou cansada e um dia destes o cansaço tornar-se-á desespero...

Isto foi só um desabafo porque neste momentos só quero estar sozinha, ver o mundo passar e ficar vazia, e tenho medo, muito medo, porque se eu já não aguento isto, como é que a única pessoa que está ao meu lado vai aguentar?...