domingo, 17 de abril de 2011

CAIM

Foi num só dia que comecei a ler, li e apaixonei-me por CAIM, foi para mim necessário um só dia para compreender o livro alvo de tanta polémica inútil e sem qualquer sentido, livro que compreendi tão bem devido ao facto de partilhar a mesma opinião que o autor neste aspecto, e em tantos outros que ele abordou ao longo da sua vida.
É um livro onde Saramago expõe um "deus" perverso, dúbio que se contradiz. Um deus que invade cidades e mata inocentes, um deus culpado da morte de milhares que se julga todo-poderoso ao ponto de nem sequer pagar pela morte de Abel como fez Caim pagar, Caim esse que tem o “prazer” a assistir a todas atrocidades feitas por deus durante todos os “vários presentes” por onde viaja, “presentes” esses que se encontram na bíblia.
É com o seu fantástico e tão singular humor que Saramago faz viajar uma personagem tão importante como Caim (mas que foi desvalorizada, pois claramente apenas mostrava o ser humano com todos os seus sentimentos que foi desprezado por um ser que se julga superior), fazendo-a rapidamente passar de passagem em passagem da bíblia e de personagem principal para personagem secundária e até para um mero observador daquilo que á sua volta se passa.
Caim é a personagem chave de toda a história, se ele não tivesse sido tão soberbamente desvalorizado, talvez toda a História tomasse um novo rumo, um rumo de um deus posto em causa pelos seus fiéis pela sua crueldade e ânsia por poder. É neste livro que deus se torna quase um humano, com todos os seus defeitos, falhas e pecados, sempre apontados por Caim que argumenta sempre contra os actos de deus, que nem dos anjos tem compreensão.
É uma narrativa difícil de acompanhar, sarcástica, que põe deus a reflectir sobre os seus erros, desde o início, a suposta criação onde deixa o fruto proibido á mão de Adão e Eva e depois os expulsa do paraíso por o terem comido, até ao dilúvio, onde Caim, põe fim á humanidade e ao jogo de deus, mesmo que para isso se tenha de sacrificar a viver errantemente por um novo mundo desértico.
Adorei completamente o livro, tal como todas as obras que li até agora de Saramago, inspira, mostra-nos, juntamente com toda a luta que enfrentou devido á publicação do livro, que temos de ser livres de pensarmos como quisermos e que devemos lutar pela nossa opinião. 
É por fim um livro de um homem, não que renuncia a toda e qualquer religião, um herege e pecador como muitos afirmam, mas de um homem que busca deus e que procurou toda a sua vida pelo seu significado.


"Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro."

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